Você de novo, dor?
terça-feira, 22 de junho de 2010
Não importa
onde eu comece, sempre termino escrevendo sobre a dor. [...] Tudo o que sei é
que me assento para escrever algo adorável, como as asas diáfanas de uma
borboleta, e, não demora muito, vejo-me de volta às sombras escrevendo sobre a
breve e trágica vida de uma borboleta.
"Como
posso escrever sobre outra coisa?" É a melhor explicação que me vem.
Existe algum fato mais fundamental da existência humana? Eu nasci em dor,
apertado por entre tecidos dilacerados e sangrentos, e, como primeira evidência
de vida, ofereci meu choro. Possivelmente morrerei em meio à dor também. É
entre esses dois eventos de dor que vivo meus dias, claudicando entre um e
outro. Como disse o contemporâneo de Donne, George Herbert: "Chorei quando
nasci, e todos os dias me mostram por que".
O texto acima, retirado do
livro Alma sobrevivente de
Philip Yancey, trata-se de um tema que sempre me derruba; o "problema da dor" tem sido um assunto que me atrai, me envolve, porque espreme a alma. Digo problema porque não há respostas simples para as questões do sofrimento. A dor humana se
apresenta não raro como sem sentido, o absurdo da vida que escorre pelas nossas mãos sem nos dar a possibilidade de apreender a questão de forma concreta. O sofrimento nos esmaga e nubla nossas ponderações.
A Bíblia não nos dá respostas para a
questão do sofrimento, não aponta uma saída para evitar a dor; a
Bíblia nem tenta fazer isso, a propósito — e Jesus muito menos.
Se não há como evitar o sofrimento logo
tratam de pôr em xeque a soberania de Deus: se Deus é onipotente por que não retira do mundo todo o sofrimento? Se Deus é amor por que permite que tantas pessoas sofram? O que dizer de genocídios, terrorismos, terremotos e tsunamis?
O que dizer de tantas mortes por causa do dinheiro mal adquirido, mal
repartido, fazendo com que a pobreza e a fome aumentem numa velocidade galopante?
Como olhar para Deus sob a perspectiva de uma adolescente que foi estuprada e
quase morta? Como apreciar a beleza da vida na pele de um mendigo seminu jogado
numa sarjeta fétida e sem ânimo até para se matar?
Muitas respostas têm surgido, mas
boa parte são “soluções” que reduzem a questão a uma fórmula gelada do tipo: "é a vontade permissiva de Deus". Um argumento que sempre desemboca em questionamentos apaixonados: que Deus é esse que permite que pessoas inocentes venham
perecer por causa de doenças, acidentes, tragédias, etc?
São dramas sem respostas fáceis e não há como não sentir certo horror de pessoas que diante de uma tragédia digam: "seja feita a tua vontade".
Lidar com esses questionamentos exige certa maturidade em relação ao tema. C. S. Lewis escreveu com muita
excelência sobre o tema em seu livro O
Problema do sofrimento; no entanto, Lewis admite que sua compreensão era a de um intelectual que observava seu objeto com certa distância, e que só veio entender realmente do assunto quando passou pela angustiante experiência de perder sua amada esposa. Foi diante da morte da pessoa amada que o autor de Cristianismo puro e simples se percebeu dentro do olho do furacão, experimentando na pele a verdade esmagadora de que “o sofrimento é o megafone de Deus”, é o voz do Criador destoando de forma tão vibrante que nos
parece o silêncio. Depois de passar pelo maior drama de sua vida, Lewis produziu
seu livro Anatomia de uma dor, onde
aborda seus momentos difíceis quando passou pelo crivo da terrível sensação de
não está sendo visto nem ouvido pelo Senhor.
Essa foi a experiência do próprio
Cristo, que soube mais do que todos o que é sofrer e agonizar com a paralisia emocional do abandono. Não por acaso Agostinho diz que Deus só teve um
filho sem pecado, mas não teve nenhum filho que não sofresse.
Jesus não passou por nada pelo que
nós não estejamos passando hoje. Em tudo foi tentado e, igualmente seus santos.
Lidar com a grande quantidade de catástrofes que arrasa a humanidade, com as
guerras e o caos da própria vida interna de cada consciência é aprender a
entender a crueza da vida concreta rés do chão. No entanto, apesar de todo caos
aparente que nos esmaga, não se pode esquecer que o brilho da eternidade lança
ordem no mundo. Ou seja, o desespero não precisa ser a alternativa.
Quando olho para a quantidade de tragédias e catástrofes sei que Deus está em todas elas; não de forma punitiva ou como um observador passivo,
mas se compadecendo sempre pelos que choram. Onde está Deus quando chega o dia
mal? "Onde estava Deus no atentado de 11 de setembro?" Esta foi a
pergunta que saiu na capa de alguns jornais na época do atentado. A
mesma pergunta foi feita a Billy Graham, que respondeu com grande
inspiração: "Nos bombeiros".
©2010 Lindiberg de Oliveira
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