Lições de 2010
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
O ano de 2010 está acabando, e não
pude escrever muita coisa. Alguns impasses aconteceram em minha vida
impossibilitando que eu fosse produtivo na manutenção deste blog. Este foi um
ano cheio de surpresas, sendo que a maioria delas surpresas infelizes.
Vou tentar colocar neste texto
algumas coisas que aprendi este ano, que apesar de muitos estorvos, creio que
pude tirar algumas lições e experiências inusitadas — apesar de alguma resistência
em escrever sobre isso.
Aprendi em 2010 que:
Tomar conta de uma congregação não
é tão fácil como se imagina, mas também não é tão difícil como nos dizem.
Aprendi que, sorrir quando se quer
chorar é um choro em dose dupla. Que o livro de Eclesiastes nem sempre é
terapia para quem não vê sentido na vida, e que às vezes existir torna-se
insuportável.
Aprendi que os adolescentes, por
mais imaturos que sejam, tem muito a nos ensinar. Que é fácil se apaixonar e
que falar eu te amo quando se ama mesmo faz bem.
Aprendi que ser apologético dentro
das instituições religiosas não é fácil, muitas vezes é sinônimo de herege. Que
quando você ler muito sobre filosofia e teologia, os irmãos começam a ter medo
de você; e isso leva a outro sentimento mais idiota, que é a raiva, chegando
então ao fastígio da asneira, que é a inveja.
Aprendi que é tolice reprimir ou
negar seus sentimentos, seja qual forem eles – alegria, ciúmes, tédio, raiva,
tristeza, etc., pois sobrepujar esses sentimentos nos leva a hipocrisia. E a hipocrisia
quando se torna um vício pode conseguir tudo, menos a moderação.
Aprendi a ser seletivo nas minhas
amizades, e que ninguém, absolutamente ninguém, escapa do domínio de nos
machucar. Que as pessoas que nos causam mais dor são aquelas que mais amamos. E
que Shakespeare talvez estivesse errado ao afirmar que nós não poderíamos
chegar à plenitude do sofrimento.
Aprendi que ler sobre o sofrimento
não alivia a dor. Ser conhecedor do sofrimento não adianta muita coisa quando o
mesmo te assola, e tenho bases muito fortes para pensar assim: Salomão,
Shopenhauer e Kierkegaard dissertariam sobre isso com maestria.
Aprendi que nem sempre é verdadeiro
quando a psicologia diz que um suicida se mata numa busca desesperada pela vida
– que na forte vontade de viver, uma pessoa se mata, na verdade, tentando matar
a dor que o consome. A falta de esperança – muitas vezes a ausência total dela
– leva-nos a desconfiar da existência de Deus, e isso chega a ser literalmente
o puro inferno. E isso é mais um motivo para crer que Shakespeare talvez
estivesse errado.
Aprendi que ainda nem sempre
consigo lidar com os meus sentimentos, fraquezas e carências morais. Que sou
pequeno e muitas vezes tenho dificuldades de reconhecer isso. Que ainda
continuo sendo um canalha mentiroso, e as pessoas que chamo de amigos não são
menos que isso. Que não existem monstros ou santos. Todos somos flamas
oscilantes.
Aprendi que os virtuosos não são
aqueles que dissertam magistralmente bem sobre a virtude, e sim os que a
praticam. O problema com a virtude está em que ela é muito fácil de simular, e
os peritos nessa simulação são justamente os perversos. Como disse Paulo Brabo,
“eles falam bem o que é correto, mas fazem bem o que é errado”.
Aprendi que perdoar grandes erros
não é fácil. Que dar tempo ao tempo é uma “droga”. Que viver não é o mesmo que
existir. Que trabalhar faz bem. Que ficar sem trabalhar também faz bem. Que ser
cristão não é o mesmo que ser evangélico. Que orar de verdade não é fácil. Que
fugir da hipocrisia também não é fácil. Que beber bebida alcoólica não é pecado
— e ainda evita mal de Alzheimer. Que mentimos porque realmente funciona.
Enfim, essa é uma suma de algumas
experiências que decorri esse ano. Um ano daqueles que não farei muito esforço
para buscar recordações.
©2010 Lindiberg de Oliveira
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