A imitação de Cristo
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Que se
cheguem até mim somente as pessoas da qual eu possa chamar de amigos. Exigir
mais do isso só distorceria a essência da mensagem que eu deveria está
transmitindo. Jesus, que viveu a única vida que lhe cabia, não quis servos, e
mostrou da maneira mais doce que amigos é uma das coisas que valia a pena
cultivar nessa vida; por isso resolveu chamar de amigos aqueles que se diziam
seus servos.
Essa
atitude inusitada do rabi de Nazaré foi imitada copiosamente por seus
discípulos. Ora, essa imitação — e aqui entra a essência do que quero
dizer — não se reduz a repetir suas frases ou atitudes. Imitar Cristo,
nesse sentido, entra numa importância mais profunda do que nós imaginamos:
seria viver de acordo com sua consciência e liberdade, rastreando cada experiência
originária existencializada em suas atitudes. Foi pensando assim que Carl Jung
escreveu algo tão visceral que se encacharia muito bem no que quero dizer:
Nós, protestantes, teremos mais cedo ou mais tarde
de enfrentar a seguinte questão: devemos entender a Imitação de Cristo no
sentido de que devemos copiar sua vida e, se é que posso usar essa expressão,
simular seus estigmas; ou no sentido mais profundo de que devemos viver nossas
próprias vidas de forma tão verdadeira quanto ele viveu a sua em todas as suas
implicações? Não é fácil viver uma vida modelada na de Cristo, mas é
indizivelmente mais difícil viver nossa própria vida de forma tão verdadeira
quanto Cristo viveu a dele.
O que Jung discerniu, e muito bem, é que o único
jeito válido de passar pela vida é vivendo-a sem hipocrisia. É desesperador ser
você mesmo. A hipocrisia cega, e são poucos que passam pelo crivo da
honestidade da consciência individual. Viver a vida como uma representação e
fazer da existência uma imagem coroada com um leque de máscaras: essa é a falsa
devoção que tanto indignou Jesus.
Prostitutas, endemoninhados, ladrões e todo tipo de
gente tiveram seu espaço ao lado do Mestre, mas os hipócritas, esses Jesus não
tolerava; e claro, Jesus também era intragável pra esse tipo de gente (Mt 23).
©2010 Lindiberg de Oliveira
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