Consequências de um capitalismo torturante
sábado, 14 de maio de 2011
Já tem algum tempo que venho
demostrando determinantemente minha aversão a algumas dimensões do capitalismo
desumanizantes, que escraviza o corpo e que projeta apenas o que é aparente na
consciência. Talvez isso faça de mim um subversivo — e sempre uso essas
palavras no bom sentido; pode ser, mas nem sempre o bastante para andar nos
caminhos que aponto. Covarde, talvez você tenha pensado. Talvez! A questão é
que diante de obsessivas observações tenho muito a dizer, e minha vaidade não
me deixa ficar calado.
O Evangelho tem-me abrido os olhos
para um tipo de relação totalmente oposta a uma concepção econômica liberal. Ou
seja, a proposta do Evangelho não é só diferente, mas também é antagônica à
sugestão do capitalismo. O primeiro prega que o desprendimento de bens materiais
além de ser uma virtude leva a um estado de paz que transcende o natural.
Felizes são vocês, pobres, porque o reino de Deus pertence a vocês.
Felizes são vocês, que agora passam fome, porque serão satisfeitos. (Lucas
6.20-21)
De fato, a piedade com contentamento é grande fonte de lucro, pois nada
trouxemos para este mundo e dele nada podemos levar; por isso, tendo o que
comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos. Os que querem ficar
ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e
nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição, pois o
amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Algumas pessoas por cobiçarem o
dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram com muito sofrimento. (1 Timóteo
6.6-10)
Jesus de Nazaré foi o principal
financiador desse conceito, articulando poética e subversivamente para não
acumularmos tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem (Mt 6.19);
para não nos preocuparmos com a vida, quanto ao que comer ou beber (Mt 6.25);
que abençoado não é quem tem é quem é (Mt 5.3-9). Com isso, Jesus chama de tolo
o empreendedor arrojado que vive para amontoar e nada desfruta daquilo que tem.
O capitalismo por outro lado, vende
continuamente aos pobres a possibilidade de se tornarem ricos. Mas, se enganam
aqueles que acham que o capitalismo se aplica somente ao mercado. Hoje ele é um
sistema universal e predominante, regido por aqueles que se instituíram os
cabeças, e na verdade só eles se favorecem desfrutando de mais de 80% dos
benefícios do nosso planeta. São aproximadamente 7 bilhões de pessoas no nosso
planeta, e apenas um quinto disso tudo come do bom e do melhor. Os outros são
privados desses privilégios e o sistema neo-liberal
não cessa de dizer: vocês não o culpados, pois não se esforçaram o bastante.
O sistema capitalista conseguiu
fabricar um novo tipo de homem e mulher, determinando assim seu estilo de vida
e relacionamento, não só com o próximo, mas com tudo ao seu redor. Somos
manipulados pelo mercado — que criam demanda todos os dias de novas
necessidades —, pela mídia e pelo governo, o qual elabora métodos próprios de
construção coletiva da subjetividade humana; no mercado somos tratados como
seres impessoais, como máquinas, notados por aquilo que produzimos e não pelo
que somos, nos coagindo a produzir obsessivamente mais do que ganhamos,
fazendo-nos entrar num círculo de estagnação indigesta.
A mídia (em todos os sentidos como
jornal, rádio, televisão, cinema, outdoor, página impressa, propaganda,
mala-direta, balão inflável, anúncio em site da Internet, etc.) também serve ao
capital com suas façanhas publicitárias, vendendo mentiras que incitam todos a
serem consumidores alienados e compulsivos. Somos manejados diariamente a
comprar aquilo que não queremos e também não precisamos para alimentar um
espírito de superioridade sobre aqueles que não têm acesso ao mesmo tipo de
consumo.
A publicidade infantil é a mais
cruel de todas, pois pega pesado com seres que não tem o senso moral latente
totalmente definido. 83% das crianças brasileiras é influenciada pela
publicidade, sendo que 72% por produtos com personagens famosos, 38% por
brindes e jogos e 35% por embalagens coloridas e atrativas. Isso faz com que
80% das decisões de compra de uma família brasileira estão na mão das crianças.
Foi-nos inserido a ilusão de que só somos felizes e que a vida não tem sentido
se não vier acompanhado de insígnias de posses, status, consumos de bens, etc.,
ou seja, na nossa sociedade é aquele
que tem.
E os políticos? A cada dia mais
hipócritas. Com vozes que não passam de homílias mentirosas disfarçadamente honradas.
Com promessas que jamais poderão cumprir enquanto vivermos alicerçados em um
sistema que se resume em uma máquina de moer gente (pobre). Vivemos uma
pseudodemocracia, onde o povo só tem voz na hora de votar. O crescimento dos
evangélicos vem aumentando na sociedade e se estabelecendo nas instituições
políticas e, contraditoriamente, a corrupção também se alarga nesses recintos.
A mensagem subversiva de Jesus me
instiga massivamente a andar no caminho oposto desse negócio todo. Quero viver
sem me vender, caminhar sem ser escravo da máquina porque como disse alhures,
eu não sou prisioneiro dos deuses, eu não sou prisioneiro de ninguém; eu sou
escravo de Jesus Cristo, e paradoxalmente ser escravo de Jesus Cristo, é andar na liberdade.
©2011 Lindiberg de Oliveira
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