Pagando pela vida com a vida
terça-feira, 6 de março de 2012
A
verdadeira utopia hoje é a de que seremos capazes de resolver nossos problemas
com transformações modestas no sistema existente. A única opção realista é
fazer o que parece impossível nesse sistema.
Lembramos
da definição surpreendentemente relevante de Paulo sobre uma luta
emancipatória: “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas
contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes
/Kosmokratoras/ das trevas deste século, contra as hostes espirituais”. Ou,
traduzindo em nossa linguagem de hoje: “nossa luta não é contra indivíduos
corruptos concretos, mas contra todos aqueles no poder em geral, contra sua
autoridade, contra a ordem global e a mistificação ideológica que a sustenta”.
Se engajar nessa luta significa endossar a fórmula de Badiou, melhor assumir o
risco e se engajar na fidelidade ao vento-verdade, mesmo que essa verdade
termine numa catástrofe, do que vegetar na sobrevivência hedonista-utilitarista
sem-eventos daquilo que Nitzsche chamou de último homem. O que devemos rejeitar
é a ideologia liberal-vitimista que reduz a política a evitar o pior, a
renunciar de todos os projetos positivos e perseguir a opção menos ruim – ou,
como notou amargamente Arthur Feldmann, o escritor judeu vienense, o preço que
usualmente pagamos para sobreviver é a própria vida.
Marcadores:
Capitalismo
,
Filosofia