Ostra feliz não faz pérola
sábado, 12 de maio de 2012
O centro do universo se encontra
no lugar que está doendo.
Rubem Alves
Rubem Alves
O
sofrimento e a dor são inerentes a qualquer ser do universo. Já dizia Agostinho
que Deus só teve um filho que não pecasse, mas não teve nenhum filho que não
sofresse. Ou seja, não temos como evitar o sofrimento, e como diz Huberto
Rohden, “a alternativa do homem de hoje e de todos os tempos não é sofrer ou
não sofrer – mas saber sofrer”. Nesse sentido, devemos canalizar o
sofrimento como um processo de evolução — evolução, e não progresso —, pois sem
dor não há evolução, não há desenvolvimento, não há beleza.
Rubem
Alves nos lembra de que o ato criador, na ciência, na arte, ou na filosofia, nasce sempre
de uma dor. Não pude deixar de notar: ato criaDOR. A felicidade, a
alegria, é um dom que deve ser simplesmente gozado e vivido. Mas raras às
vezes a experiência de exultação produz as condições necessária para criar
beleza. São os que sofrem que produzem beleza, que desenvolve o inexprimível para
parar de sofrer. Era isso que Nietzsche queria dizer quando escreveu que "criar é a grande emancipação da dor e o alívio da vida. Mas para que exista o criador, necessita de muitas dores e transformações".
Nesse
contexto, Rubem Alves usa como exemplo a ostra, um ser destituído de beleza estética, com um corpo mole e protegida solitariamente por uma concha calcificada, que precisa ter dentro de si um
grão de areia, um invasor que a faça sofrer. Aquele grão de areia dentro de si produzirá feridas, um tumor irredimível, que no final das contas a fará produzir
uma perola.
“Ostras
felizes não fazem pérolas”…
Pessoas
felizes são condicionadas à contemplar; não sentem a necessidade de criar. Com isso não quero dizer que a
felicidade não cria beleza. A felicidade também a produz, no entanto, o
desespero e a angustia geram o inefável. Não é preciso que seja um sofrimento alucinado. Por vezes a dor aparece como no isolamento, quando aprendemos a lidar
com a rotina, ou até mesmo nas inquietações gerada pela curiosidade.
©2012 Lindiberg de Oliveira
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