Confissão
terça-feira, 27 de novembro de 2012
Sou uma
farsa. Sou um patife, um mentiroso e um canalha. Sou também um santo em muitos
sentidos, mas isso apenas distorce a essência da mensagem que eu deveria estar transmitindo.
Paulo Brabo
Quando li essa frase pela primeira vez não pareceu
que eu estava lendo um texto; a sensação que tive foi de estar me confessando. Exatamente por que são essas as “qualidades” que me modelam: um patife, um
canalha, um mentiroso, uma farsa. Sei que não estou só nessas categorias, mas
tenho certeza absoluta que estou entre poucas companhias diante dessa
confissão. Não pretendo mais esconder minhas limitações – isso eu deixo para os plotadinhos gospel dessa geração. Quero sujeitar-me para todos o quanto sou humano e falível. Quero
mostrar para todos o quanto não sei de muitas coisas que muitas vezes dissimulo
saber. Sou pequeno, e muitas vezes tenho dificuldades de reconhecer isso, e
essa, é minha irredimível punição nesse mundo.
Você, meu amigo, entenderá que não somos muito
diferentes. Sim, quando você, caro leitor, se observa diante do espelho contempla facilmente a face da inveja, do orgulho e da mentira com seu próprio
nome. E caso esteja me lendo com aquele ar de reprovação se achando uma pessoa
ética, você é um canalha. Alegro-me muito ao saber que também não sou diferente
das pessoas a qual Jesus resolveu andar. Sendo chamado de “amigo de pecadores”,
o rabi de Nazaré se envolvia de forma muito apropriada na companhia de gente que que muitas vezes apontamos o dedo e dizemos:
“esse daí não presta”. Era na presença desses tais que Jesus se detinha e se sentia
a vontade, longe da hipocrisia dos “imaculados”.
Cansei de ouvir e ler asneiras legalistas sobre a ira
e a justiça de Deus com indicações totalmente punitivas em relação ao pecador, como se pudéssemos a qualquer momento através de um toque de mágica, parar de
pecar. Ou como se o juízo de justiça que Deus nos deu não servisse de
parâmetro para compreender a justiça divina.
Vejo o quanto estou distante de obedecer o sermão da
montanha (Mt 5-7). Mas também entendi que esse sermão está distante de ser uma lei
imponderável. Ao contrario, o sermão da montanha só indica o quanto é impossível encontrarmos
o Ressuscitado frente a frente por esforço humano, mostrando assim a nossa
incapacidade e insuficiência diante do Eterno. "Ai de mim se não fosse a tua
Graça, Pai". Uma coisa eu entendo desse sermão: que a paixão de Jesus é pelos
pobres, os que choram, os mansos, os caídos, os violados, os atormentados.
"Habito no alto e santo lugar, mas habito também ao lado do humilhado e
abatido de espírito, diz o Senhor" (Is 57.15). Discursos como “Deus odeia
o pecador”, soa totalmente alheio aos ouvidos do pai de Jesus, que toma partido
de gente mentirosa, assassinos, ladrões, e que, ainda por cima – pasmem – são chamados
de heróis da fé ao qual o mundo não é digno. Vemos que Jesus preferiu morrer ao lado de dois malfeitores
do quê se assentar a mesa dos religiosos. Chegando as raias do imprevisível, de
no último instante, salvar um criminoso.
Permita-me, meu amigo, cometer a obscenidade de afirmar
que esse Deus – o qual alguns afirmam que além de odiar o pecado, também odeia
o pecador –, habita não mais ao lado, mas, repousa diretamente em vasos de
carne. Sim, essas cascas cheias de máscaras como eu e você. Fez de nós o seu
templo, sua mansão. E essa é a verdadeira beleza da redenção divina, que nos
faz entender que a verdadeira religião (espiritualidade) não é ficar por ai
vendo anjo ou fazendo viagens celestiais entre o Céu e o Inferno, mas
simplesmente estabelecer relações com os órfãos, as viúvas, os encarcerados, os
que têm fome e sede. Quando você abraça o Outro, você abraça também Deus, e
todo tipo de vaidade e arrogância. Vai entender né.
©2012 Lindiberg de Oliveira
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