A passividade da igreja

terça-feira, 20 de agosto de 2013 Postado por Lindiberg de Oliveira
As manifestações que ocorreram esse ano no Brasil fez com que o mundo inteiro olhasse pra nós. Existem alguns pontos negativos, é claro, mas seria impossível iniciar algo nessa proporção com todos os arquétipos bem definidos e organizados. O Brasil presencia dois momentos inusitados diante dessas manifestações; primeiro, a surpreendente hostilização contra qualquer representatividade política. Segundo, a provocação diante de todos os setores de imprensa.
Ora, isso é muito significativo levando em conta que essas duas divisões são, de fato, veículos de manipulação das massas. O povo se cansou. E não foi de partido A, ou de partido B, mas de qualquer representatividade política. Enfastiou-se da exploração e da corrupção partidária – a única bandeira aceita nos protestos são as que têm as cores verde e amarela. Se cansou da manipulação e deturpação da verdade, veiculada pela imprensa, sempre tendenciosa e imparcial. Importa reconhecer que este evento é fruto de uma nova fase da comunicação humana, totalmente aberta, mais democrática, estampada nas redes sociais.
O que me deixa intrigado é a passividade e a indiferença de alguns evangélicos (a maioria claro) diante de tudo isso. O Brasil está acordando, mas a Igreja ainda está sonâmbula. Perdeu a capacidade de se escandalizar com a coisa certa – é mais escândalo uma mulher nua em um outdoor do que uma criança nua, faminta na esquina. Isso é o mesmo que caçar ratos dentro de suas quatro paredes institucionais, enquanto tem leões tragando gente lá fora. Preferem o conforto de suas instituições a sair às ruas clamando por justiça e paz. O que é dito dentro da igreja não muda o mundo; as ações no mundo muda o mundo.
“Mas e a marcha pra Jesus, que reuniu dois milhões de pessoas?”
Poupe-me de sensacionalismo, estou falando de coisa séria, e não de um movimento ufanista e comercial, financiado para promover marcas, cd’s e uma teologia deficiente. A liderança desse movimento preferem os holofotes, preferem os púlpitos a gastar a sola dos seus sapatos juntamente com seu povo. Preferem os discursos moralistas e anacrônicos a se posicionar em favor dos oprimidos e excluídos. Preferem chamar os manifestantes de baderneiros, pois não se submetem as autoridades. Sim, benditos “baderneiros”, que erguem suas vozes com sede de justiça – eles serão saciados. Esqueceram-se de que Jesus, ao purificar o templo, usou um azorrague, espalhou as moedas dos cambistas e virou as mesas (Jo 2.13-17): um baderneiro aos olhos dos religiosos. Baderneiro também por enfrentar as autoridades sacerdotais, desmascarando-as sem a menor restrição (Mt 23). E o que dizer dos apóstolos e dos primeiros cristãos, que foram chamados de “aqueles que causam alvoroço por todo o mundo” (At 17.6), garantindo assim uma subversão ao sistema. A concepção evangélica em relação à autoridade é totalmente deturpada e pagã. Temos que retomar o discurso de Pedro quando diz que “cabe obedecer mais a Deus que aos homens”.
O que dizer de Lutero, que deu início ao Movimento Protestante indo contra todo o império da Igreja Católica, fixando suas 95 teses no castelo de Wittemberg, causando umas das maiores revoltas do século XVI. Esquecemo-nos de nossas raízes, do verdadeiro sentido de ser protestante. Fomos adestrados pelo sistema a adotar a passividade como conduta. Está na hora de acordar. Nessa altura, a revolta é totalmente saudável e benéfico. Patológico é continuar dormindo, inerte e passivo, diante de tanta desigualdade, exploração, corrupção e indiferença da parte do Estado. Não acredito em algum tipo de castigo exemplar para envolvidos em corrupção. Até porque, o povo brasileiro se conforma muito fácil com o tipo de punição midiática que vem atuando: pode até ser corrupto, desde que a mídia cumpra seu papel meticuloso de expor todos os envolvidos em corrupção em praça pública sob chicoteadas sem fim. Depois disso, a população dá-se justiça como feita, a impunidade continua, a mídia muda de pauta e a investigação para.
Minha oração é para que Deus levante uma Igreja legitimamente protestante, que entenda de fato o que quer dizer “não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos”.

©2013 Lindiberg de Oliveira


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