Os limites institucionais
sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
É muito significativo a fragmentação institucional do
cristianismo neste último século. Claro, uma análise bem sucedida sobre este
fenômeno comporia um livro, certamente; no entanto, vou me deter somente em
poucas e rasas linhas.
Estou convencido de que essa fragmentação dentro do
cristianismo tem seu princípio nas próprias configurações da instituição; ora,
as instituições religiosas carrega em si mesmas o germe de sua própria ruína.
Mas talvez eu esteja me adiantando, caro leitor; vamos primeiro compreender o
cenário religioso que influenciou todo o ocidente.
Grosso modo, o cristianismo pode ser dividido em duas
facções: catolicismo e protestantismo. O catolicismo pode ser visto como uma
instituição muito bem definida; não cedendo às variações, às crenças e costumes
das épocas, sempre se comportou como uma instituição inflexível no decorrer da
história. Apesar dos partidos que ora e outra se divergem dentro da própria igreja,
como os franciscanos, jesuítas, movimento carismático, etc., é comum todos
darem as mãos formando uma unidade dentro da própria instituição. Bem, não é
assim no protestantismo.
O protestantismo tem como parteira o desconforto e a reação de
Lutero e Calvino diante de alguns abusos do catolicismo. No entanto, o
protestantismo não se saiu melhor; foi construído sob dissenções e brigas, que consequentemente
gerou várias outras no decorrer de seu desenvolvimento. Cada um dos grupos
gerado por essas dissenções se apropriava da Revelação dizendo-se dona do
monopólio divino. As igrejas oriundas da Reforma como Anabatista, Luterana,
Anglicana, Presbiteriana, foram gerando outras com discursos tão
fundamentalistas quanto estas; “nós somos a igreja verdadeira e o resto é fake”. Vale dizer também que nesse contexto, as disputas entre católicos e
protestantes se transformou em um campo de batalha sangrento, onde os
princípios mais básicos do Evangelho foram ignorados.
Ainda hoje, dentro do protestantismo, há várias instituições
que carregam em seus dogmas a convicção de ser ela o “último Bastião de Deus”.
Igrejas como Adventista, Testemunhas de Jeová, Congregação Cristã, Mormons,
etc., rejeitam qualquer tipo de diálogo que coloquem em xeque suas autoridades
institucionais como “igrejas verdadeiras”. Ou seja, não há unidade no
protestantismo; o que há é uma delicada obsessão pela placa, pela bandeira,
pelo grupinho; o que há é uma grande concorrência no mercado religioso pra ver
qual é a instituição que oferece a “verdade” mais digestível. Nem mesmo na
presente época, onde ser de Deus virou modinha, conseguimos superar as
fronteiras desse caldo institucional. A geração de evangélicos atuais é
herdeira desse mal que se fermentou ao longo dos séculos.
Jesus é a superação desses limites institucionais, já que,
Deus não tem religião. O Rabi de Nazaré veio desmantelar todo esse arcabouço
religioso que nós insistimos em edificar; desconstruiu toda estrutura
hierárquica de relacionamentos em que as igrejas insistem recosturar; implantou
a união entre os homens e Deus, enquanto a religião segue promovendo suas
divisões; com sua morte, Jesus removeu todas as indulgências, penitências e
débitos, que são abraçados tanto por quem se diz evangélico quanto por católicos;
instituiu a graça como base para salvação, sendo que nós a pisoteamos todos os
dias, pois achamos que podemos ser salvos através de nossos próprios esforços,
pela quantidade de tempo que oramos, jejuamos ou falamos de Deus no Facebook.
A religião não sabe como amar; ela só reconhece suas próprias
demarcações. A religião é responsável por transformar tudo numa grande efusão
espiritual que embevece, alucina, entorpece as multidões, sem que o Evangelho seja
anunciado e refletido. Jesus veio estabelecer a ordem na alma e desatar esse nó
em que muitos insistem em permanecer amarrado. Não existe mais um espaço
geográfico para fixar o limite do agir divino, “não é neste monte e nem em
Jerusalém” (Jo. 4:21); o mundo todo é o limite de Deus; seu templo é feito de
carne e sangue, e não de tijolos. E é através de carne e sangue que a boa nova
é transmitida.
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Oliveira