O presente não é o meu mundo
quarta-feira, 27 de maio de 2015
Eu tinha cinco anos e era exatamente 1991. O lugar é o embaraçoso Estado paraense; para ser mais exato, município de Redenção. Minha memória foi pintada por recordações tão nostálgicas desta época que nem mesmo os comerciais da Coca-Cola poderia superar.
O mundo, com todas as suas perturbações não me atingia; aliás, tudo era muito limitado diante das minhas pequenas percepções: dar uma volta no quarteirão era uma aventura incrível, ainda mais se fosse pedalando na minha “bicicleta do Rambo”, logo ali atrás de minha irmã, na imagem acima. Cara, como eu amava aquela bicicleta — afinal de contas, era a bicicleta do Rambo (por falar nisso, batizei ela com esse nome simplesmente por que ela tinha as cores do exército).
Ser criança foi maravilhoso diante de uma cidade cuja a maior parte era uma vegetação que poderia deixar qualquer um estupidamente admirado. Como é de costume nos interiores do Pará, cada morador tinha um canteiro de hortaliças. O quintal da minha casa se perdia no meio de pés de mandioca, feijão, jaca, manga; tudo isso rodeado de uma vegetação cheia de árvores, sítios, pastos e córregos dos quais percebi gradualmente, dia após dia, se transformarem em ritmo pornográfico em mansões, asfaltos, padarias, supermercados, motéis, ginásio, etc.
Naturalmente, tudo ficou mais feio, claro.
Hoje, mais nada está de pé. Tudo se foi, minha casa de madeira, o quintal, a “bicicleta do Rambo”, o quarteirão, os vizinhos, os anos 90.
Nada me faz esquecer daquilo tudo, da comida, do café, do meu pai chegando do trabalho, da minha mãe limpando a casa ouvindo “Jude”, dos Beatles, dos ralados nos joelhos, das chuvas que faziam brotar peixes do chão, dos entardeceres; eu tinha a vida de um hobbit e o mundo parecia gritar para mim: “pegue o que você precisar”.
Atualmente, esse mundo não existe fora da minha cabeça. Esse é o mundo offline, longe das garras das redes sociais e da tirania da internet, onde muitos não conseguem mais não conceber — e talvez não seja possível mesmo. O presente não é o meu mundo e, não culpo você, caro leitor, caso observe alguma contradição no que eu digo; mas, combinaremos, sendo o Lindiberg que sou, você já deve ter se acostumado.
©2015
Lindiberg de Oliveira
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Levando a infância a sério